domingo, 25 de abril de 2010

Pequenas alegrias urbanas (63) -- O degrau

No seu trigésimo ano de empresa, foi promovido pela primeira vez. Não houve discurso, o que ele deplorou, porque fazia vinte anos vinha guardando adjetivos e advérbios para quando a ocasião chegasse, e nem festa, só um hip hurra frouxo e servil puxado pelos funcionários mais novos, que fariam o mesmo para qualquer outro chefe. Num canto da sala, um funcionário tão velho quanto ele murmurou: "Ele era subnada, agora melhorou, é nada." Foi para esse que o promovido olhou com ferocidade e orgulho, sentindo-se frustrado apenas porque ali não estava, morto um ano antes, aquele Dimas Antônio que, sabendo das suas aspirações, tinha dito várias vezes que, com sua burrice e falta de talento, ele jamais chegaria a subir um degrau na empresa.

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