segunda-feira, 17 de maio de 2010

Pequenas alegrias urbanas (120) -- A prima

Andavam pelo shopping, tratando de um assunto imediato (o que jantariam) e um mediato (o casamento, marcado para dali a seis meses), quando ela teve a mão puxada bruscamente por ele e os dois, que estavam indo para a praça de alimentação, tomaram o rumo da escada rolante, para descer. "É minha prima, ali", ele se justificou. Enquanto ela olhava para trás e via uma mulher feiosa, nada parecida com o primo, e que dava a impressão de ter uma verruga pilosa numa das orelhas, ele se explicou: "É uma chata. Quer ver se arranjo emprego para ela." Acabaram jantando em outro lugar, onde falaram sobre o casamento -- que se realizou não um semestre depois, mas dali a três meses, e não entre ela e ele, mas entre ele e aquela que ele tinha dito ser sua prima. O consolo da noiva abandonada foi ver, na coluna social de um matutino, um dia depois do casamento, que seu ex-amor não lhe parecia agora tão belo e que a verruga da suposta prima, embora visivelmente retocada, estava ali, inteira.

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