quinta-feira, 3 de junho de 2010

Pequenas alegrias urbanas (173) -- Meu querido

"Meu querido, já adivinho a cara que você vai fazer, mas você sabe muito bem como eu sou. Acredito em você, no que você diz, mas sou mulher e sei como algumas mulheres são. Por isso, eu lhe peço outra vez, meu querido: cuidado com elas. Sei que você vai ficar aí só três dias, mas eu repito: cuidado com elas. Elas sabem como se aproximar, chegam de mansinho, dão um sorriso, dão outro e, um instantinho depois, já estão com o braço em volta do seu pescoço, se enroscando que nem cobras. E eu não entro nessa história de que as inglesas são frias. Mulher é mulher. São três dias só, mas Deus sabe como vão custar a passar. Três dias!!! Não vai me pedir para ser menos ciumenta, vai? Porque não vai adiantar. Sou ciumenta, sim, não tem jeito. Ciúme é ciúme. Não tem meio ciúme, um terço, um quarto. Sinto muito ciúme, todo o ciúme do mundo, e acho que você devia ter até orgulho disso. Você é meu, todo meu, não consigo pensar de outra forma, e tenho até, sei que tenho, esse ciúme que você chama de retroativo. Sinto ciúme de você desde que você era bebê no berçário. Eu ainda não tinha nascido e já sentia ciúme de você. Por sinal que agora há pouco eu estive na casa da sua mãe e ela me mostrou uma foto sua, com os coleguinhas da quinta série. Uma loirinha feiosa está com a mão no seu braço, toda oferecida. Fiquei uma fera, mas sua mãe me disse que ela está na Espanha faz dez anos e que se deu muito mal: primeiro foi atrás de um cantor espanhol, que um ano mais tarde já estava com outra, e depois casou com um traficante francês preso pela Interpol. Quer saber? Ela que se dane e continue se danando. Já desde menina era assanhada, esperava o quê? Sua mãe não soube me dizer o nome dela. Mas você deve lembrar. Quem é ela, meu querido? Sei que a Inglaterra não é tão perto assim da Espanha e confio em você. Mas, meu querido, me diga, quem é ela, como é o nome dela, meu querido?"

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