segunda-feira, 19 de julho de 2010

Desculpas

Tenho certo pejo às vezes - e deveria tê-lo com maior frequência - quando coloco aqui algumas pieguices minhas. Durante grande parte da vida, meu desejo foi - contra as normas da melhor literatura - ser piegas ao ponto máximo e fazer chorar. Com o blog, venho conseguindo fazer pelo menos um leitor chorar. Esse leitor sou eu, quase sempre exacerbado em meus sentimentos e em meu tosco lirismo - e, quanto mais exacerbado e lírico, mais distante da nobreza literária. Não chegarei ao extremo de dizer que talvez a poesia esteja hoje tão fora da vida das pessoas exatamente por não exprimir o que elas gostariam de ver a poesia celebrar. Mas imagino que haja algo de verdadeiro nisto. A chamada poesia ingênua, aquela que - uso aqui um lugar-comum - fala diretamente à alma, está fora do mercado. E não há mais, como antigamente havia, quem suspire com versinhos de amor, porque eles já não se encontram nas livrarias, a não ser em edições antigas, em antologias. Admito - já que isto aqui para mim não raramente é uma espécie de divã psicanalítico - que tenho saudades de Casimiro de Abreu (cruzes, que confissão) e momentos há em que me envergonho de ter execrado J.G. de Araújo Jorge, que era tido como "o poeta das datilógrafas" (havia datilógrafas naquele tempo!). Quem escreverá hoje para as digitadoras? Não tenho ilusão quanto à qualidade das quadrinhas que venho postando. Elas têm cumprido, e só isso, o papel de - e aqui vai outro lugar-comum - me lavar a alma. O ideal seria que eu fizesse isso de tal forma que os eventuais leitores se beneficiassem com algo ao menos semelhante a uma manifestação artística. Por não ser esse o caso é que peço desculpas a vocês.

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