domingo, 18 de julho de 2010

Lírica (172) - Pintura

Seu olhar começou pelos cabelos e acompanhou o modo como escorriam dourados e como, no meio da nuca, com medo talvez do abismo, se encolheram abruptamente, formando uma graciosa curva com as pontas para cima. E, tendo chegado à metade da nuca, os olhos desceram por ela mais um pouco, percorrendo as costas, e alcançaram os quadris, por onde se espraiaram e, com lenta atenção, se fixaram por um instante nas coxas recém-saídas do banho e, depois de um salto suave sobre a parte de trás dos joelhos, deslizaram com leve susto pelas panturrilhas e chegaram aos tornozelos, onde a toalha enxugava os últimos pingos, para que os pés pudessem ir pegar o roupão que, impaciente como o homem no quarto, esperava.

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