sexta-feira, 23 de julho de 2010

Lírica (251) - Sabedoria

Quando menino, tinha muito medo da Morte. Aterrorizava-se ao pensar quando ela viria, de que forma, e sentia horror ainda maior ao imaginar como ela seria, se ele a reconheceria logo ou se ela o enganaria, apresentando-se com uma face gentil, para apunhalá-lo só na décima segunda ou na décima terceira esquina. Os adultos, que sempre sabiam de tudo, lhe diziam que não se preocupasse, porque a morte viria quando viesse, e que ele cuidasse da vida porque, esta sim, era traiçoeira. Ontem, andando por uma rua para a qual pareciam ter ido todos os habitantes da cidade - e mais uma vez, como em todos os outros dias, não vendo a mulher amada -, ele entendeu o que os adultos lhe tinham dito: difícil era a vida, terrível era sentir-se morto no meio do burburinho e da agitação, horrível era saber que a Morte não precisaria iludi-lo antes de o acompanhar até a décima segunda ou a décima terceira esquina e apunhalá-lo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário