domingo, 4 de julho de 2010

Philip Roth (2)

Houve uma época, não tão distante, na qual imperou um conceito quase higiênico de literatura. Um livro podia não ser constituído basicamente de palavras corretas, mas era um pecado irreparável que ele contivesse palavras inadequadas - aqui, naturalmente mas não exclusivamente, incluídos os chamados palavrões. Esse modo quase puritano de ver a literatura perdeu força, mas ainda há quem, frequentador de todos os bordéis da vida, diga se escandalizar com expressões que até crianças utilizam no seu dia a dia. Como convencer esses, que gostariam de passar pimenta na boca de tantos escritores, de que dificilmente alguém exprimiria com maior ternura e nostalgia do que Philip Roth, em Pastoral Americana, uma reunião de amigos que não se veem há muito? Eis um diálogo de dois participantes da festa, entristecidos com a devastação causada pelo tempo nas suas antigas musas: "Não, uma reunião de quarenta e cinco anos de formatura não é o melhor lugar para se procurar uma bunda para comer." (Pastoral Americana, Companhia das Letras, tradução de Rubens Figueiredo.)

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