segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Lírica (838) - Pauliceia

Tão anacrônica é tua febre, tão ultrapassada... Deverias ter nascido duzentos anos atrás e ser companheiro de Álvares de Azevedo ou quem sabe Fagundes Varela. E, expondo-se ao cruel frio paulistano e à sua mortal garoa, ir declamar teus versos tuberculosos em algum beco onde ao menos te responderiam os cães irados e as maldições dos pais de família zelosos de suas virgens, guardadas para os fidalgotes e para os homens não corrompidos pela peste da poesia. Hoje, quem te responde?

2 comentários:

  1. Gostaria muito de ter nascido antes de 1974. Gostaria de ter nascido no final do século XIX, para poder ter experimentado na carne toda a novidade que chegou com o início do século passado. Gostaria de ter tido uma leve tuberculose, de ter ido tomar a fresca na Suíça, ou mesmo em Petrópolis. Gostaria de ter conhecido a intensidade que hoje se esvai, a eterna novidade da descoberta.

    Hoje me acho em um mundo tão passivo e tão sem futuro, que passo grande parte de meu tempo pensando a respeito de coisas que nunca vi, mas que ainda assim me dão saudade (vai saber se realmente não fui uma poetisa tuberculosa ou que não limpava os pincéis de Monet?). O que sei é que esse mundo cinza me esgana e me esgota.

    Mas ainda tenho esperança e procuro ser salva.

    E eu tinha outra coisa para falar e esqueci. Pff. Que ódio.

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  2. Eu, por mim, gostaria de ter nascido lá por 1430. Teria tomado parte, de um lado ou do outro, da tomada de Constantinopla, teria batalhado, teria sido esmagado pelo inimigo ou o teria esmagado, teria vivido e (o melhor) teria morrido, já. Digam o que disserem, viver é uma carga (para o homem, que se tem como medida de tudo). Deve ser bom viver como qualquer outra coisa, qualquer outro ser. Disse que gostaria de ter nascido em 1430 e acho melhor recuar um pouco: 1200 seria um bom ano - para evitar que, num caso raro de longevidade, eu pudesse ainda estar vivo...

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