sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Situações (100) - O Nome da Rosa

Há livros que existem para ser ostentados. Colocados contra a vontade deles e dos autores nas listas dos best-sellers, recebendo múltiplas citações e resenhas, eles, embora não correspondam nem queiram corresponder àquilo que o leitor médio costuma esperar, são levados por ele aonde ele for: ao metrô, ao escritório, às academias de ginástica. Constituem um exemplo do que antigamente se chamava de cultura de sovaco. Hoje adquiriram o status de bijuterias, uma espécie de brincos e pulseiras da cultura. Escritos para a compreensão integral de talvez apenas mil eruditos no mundo, são vistos, como que por desastrado sortilégio, nas mãos de pessoas que não os lerão mas os acharão "maravilhosos". Um desses livros, O Nome da Rosa, de Umberto Eco, cintilou como brinco e pulseira durante meses por São Paulo. Ouro para os mil eruditos capazes de compreendê-lo, virou ouropel e, como tal, andou melhorando o aspecto intelectual de quem o carregou de um lado para outro da cidade. Tentei ler o livro e percebi, logo nas primeiras páginas, que se fosse tomá-lo a sério, como deveria, e procurar, por exemplo, traduzir as partes, imensas, em latim, gastaria talvez - e sem nenhuma garantia de êxito - o resto de minha vida. Pulei as citações, frases, parágrafos, páginas, desisti de ir à enciclopédia a cada dez linhas, e cheguei ao fim como quem chega a um lugar cujo nome nunca saberá. Imaginei ser mais proveitoso fazer uma segunda leitura de Ulisses, de James Joyce, da qual também saí, quase como na primeira vez, sem saber se estava em Pasárgada ou em Calcutá.

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