sábado, 11 de dezembro de 2010

Lírica (1.365) - O velhinho

Talvez eu reconheça em você a moça que um dia - tanto tempo fará! - me disse que a vida era o tipo de atividade para o qual não convinha fezer planos. E talvez eu me lembre de como, intimamente, depreciei a frase. Eu tinha tantos planos, tantos, na época... Se a reconhecer, eu lhe elogiarei a gentileza (recordar-se de um amigo tantos anos depois). Você olhará para mim disfarçadamente, várias vezes, e eu saberei que por alguns instantes você estará pensando: será mesmo ele, este? Outros velhinhos carentes de afeto virão, tentando falar com você, e eu - como em tantas outras vezes - terei ciúme de você, um ciúme que me mandará para a cama por três dias e preocupará o médico e as enfermeiras do asilo.

2 comentários:

  1. Obrigado, Pedro. O texto é desalentador, acho. Quer dizer que o homem não se livra dos seus sentimentos, bons ou maus, nem no fim. O ciúme, aquela fera que nos devora por dentro, que nos rasga, é um desses sentimentos. Prefiro morrer com ele a morrer com sentimentos aguados, se bem que seja fácil dizer isso, agora, quando a morte, se bem que de vez em quando dê uns sinais, ainda parece um tanto distante. Na hora da agonia manterei essa opinião ou me declararei "um bom menino"? Tomara que eu possa resistir e dizer, no momento final, um nome de mulher, por exemplo, em vez do nome de Deus. Como bem resume aquela frase feita, "o tempo dirá". Abraços

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