segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A gaveta (84) - Soneto da memória

Quando a neve chegar ao coração
E branquear a paisagem dos cabelos,
Quando os lábios que vibram de paixão
Mais nenhum beijo venha comovê-los,

Quando já fatigada de mantê-los
Queime a memória os trapos da ilusão,
E o olhar, olhando os lábios, custe a crê-los
Capazes de ao amor ter dito "não",

Quando vier o frio, e a juventude
Tu mesma hesites ter podido ser,
Vem buscá-la em meus braços comovidos.

Eu, que colhê-la na época não pude,
A tenho intacta em mim a florescer,
Na memória, nos olhos, nos sentidos.

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