quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Verbete

Já te mandei minha foto. Podes agora mostrá-la e dizer que sou eu aquele insensato que te manda versos e neles fala de algo, o amor, que hoje só talvez os dicionários e as enciclopédias ainda saibam dizer o que foi. Pode ser que alguma de tuas amigas ria um pouco menos que as outras ao ver meu rosto atormentado e faça até um comentário piedoso ou polido sobre mim. Que ela não seja a primeira a deixar o alegre encontro. Se for, talvez se esqueçam de mim e passem a falar dela como se fosse um ser de alguma era mais do que pretérita e, depois das boas gargalhadas que isso provocará, é possível que a mais irônica de todas as participantes resuma numa frase, recebida com risos ainda mais estridentes, o absurdo da situação: "Ela talvez possa ser um bom par para ele, o que vocês acham?" Essa mesma pedirá para olhar de novo minha foto e, balançando a cabeça, perguntará: "Do que ele fala mesmo? De amor?" E essa palavra, amor, soará nos lábios dela como se fosse um trapo de chão.

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