domingo, 27 de fevereiro de 2011

Metamorfose

Vinha dando sinais de esquisitice, que resvalavam já para a extravagância e a bizarria, o que a família debitava ao seu desvairado amor pela literatura. Havia começado a confundir palavras cotidianas e também objetos. Ontem, na cozinha, lhe apareceu uma barata. Os dois ficaram se olhando, olhando. Notando que, se não saísse logo dali, talvez permanecesse até o final dos séculos, porque ele já havia murmurado cachorro, lebre, ouriço, centopeia e outros cem disparates, sem se decidir por atacá-la ou deixá-la escapar, ela se transformou rapidamente em Kafka e o engoliu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário