domingo, 6 de fevereiro de 2011

Na curva, a flor

No inverno da vida, numa curva que talvez fosse a última do seu caminho, encontrou a surpresa de uma flor. Tão frágil ela era que ele, esquecendo a própria fragilidade, se entristeceu. Era um milagre ela estar viva ali, quase toda coberta de neve. Talvez nem resistisse até a noite. Esse pensamento quase o fez arrancá-la e levá-la consigo. Quem sabe ela lhe tivesse sido destinada como a última companheira da vida. Chegou a tocar seu caule, mas desistiu. Talvez ela se mantivesse viva e no dia seguinte aparecesse o primeiro sol da primavera. Deixou-a então e retomou seu caminho, imaginando quantos passos conseguiria dar ainda, antes do derradeiro. A neve então se transformou repentinamente em nevasca e, pensando agoniado na flor, ele retrocedeu. Precisava protegê-la, ficar com as mãos em torno dela, salvá-la. Quando chegou ao lugar onde estava a flor, ele a viu caída. Apanhou-a e tentou aquecê-la com as mãos. Colocou-a depois no bolso do casaco, junto ao coração. Pôs-se a murmurar algo que talvez fosse "minha filhinha, minha filhinha". Sentado na neve, com as mãos segurando cuidadosamente a flor dentro do casaco e chicoteado pelo vento gélido, sorriu. Sabia que não faltava mais nenhum passo para o final de sua jornada.

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