quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Preço justo

Dar a vida
mas não
por algo que fizesse
a vida que eu ofertasse
parecer pouco
e parecer louco
quem a aceitasse

Dar a vida
por algo que não me envergonhasse
de comprar ouro
com moedas falsas
e que de injúrias me isentasse
e das maldições
do mercador me salvasse

Dar a vida
não pelo Ulisses
de Joyce
nem pelo tempo vivido
e revivido
de Proust

Talvez por esses
o supremo mercador
minha vida
digna não julgasse

Dar a vida por um verso
só um verso
para que o mercador
não desconfiasse
e um preço superior
não arbitrasse

Dar a vida por um verso
um verso apenas
(toma-a já mercador
se tu a queres)
e morrer satisfeito
tendo um papel no peito
e escrito no papel
o verso de Seféris

Verso que vale
todos os tesouros
e todas as moedas
verso que diz tudo dizendo só
"Mulher que na minha alma te hospedas"

Nenhum comentário:

Postar um comentário