quarta-feira, 15 de junho de 2011

Folhas de Relva, de Walt Whitman

Depois que Walt Whitman publicou Folhas de Relva, em 1855, quem se atreveu a escrever uma estrofe, um verso que fosse, sobre a América, se obrigou, sabendo ou não, a lhe render tributo. A América - a passada, a presente e a futura - está inteira no livro. Chamá-lo de poema é pouco, defini-lo como ode também, assim como seria irrisório denominá-lo bíblia da alegria de viver. Nele está a vida humana, com tudo que lhe dá valor e sentido, com tudo que a glorifica. Dores, perdas e infortúnios existem nele como contraponto e alimento para a alegria que há no simples fato de estar vivo. Para Whitman, insetos, homens, pedras e estrelas têm igual magnitude. Nada há de ser indiferente ao ser humano, tudo lhe diz respeito. No trecho abaixo, um exemplo. É Whitman falando dos animais:

"Creio que poderia voltar e viver entre os animais... eles são tão plácidos e contidos,
Às vezes paro e os encaro boa parte do dia.
Eles não sofrem nem lamentam sua condição,
Não ficam acordados no escuro chorando seus pecados,
Não me causam asco discutindo seus deveres com Deus,
Nenhum está insatisfeito... nenhum sofre da mania de possuir coisas,
Não se ajoelham diante de outro de sua espécie, nem de seus ancestrais que viveram há milênios."

Mas o que estou eu fazendo aqui, falando de Walt Whitman? Melhor, muito melhor dar a palavra a Jorge Luis Borges:

"Whitman, que numa redação do Brooklyn,
Entre o cheiro de tinta e cigarro,
Toma e não diz a ninguém a infinita
Decisão de ser todos os homens
E de escrever um livro que seja todos."

(O trecho de Whitman e a citação de Borges foram extraídos de Folhas de Relva, tradução de Rodrigo Garcia Lopes, publicado em 2005 pela Editora Iluminuras.)

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