quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A estrela

Fazia um dia e meio que não comia. Não ousava pedir nada aos outros três homens, que estavam compartilhando um saquinho de batatas fritas e um baseado. Era a primeira noite que passaria ali, no viaduto, e eles o haviam aceitado com relutância. Para iludir a fome, pensou em dormir, mas um vento gelado atravessava os jornais com que ele se cobrira. O estômago lhe doía, como se nele houvesse uma chaga. Um dos homens tinha lhe oferecido uma tragada, e ele dera três, bem fundas, no cigarrinho. Já quase dormindo, viu o leite pingando, e depois jorrando, na avenida. Correu para o meio dos carros, com a ansiosa boca aberta. Quando a moto o atirou para o alto e o ônibus o prensou sobre o asfalto, um dos homens deitados na encosta do viaduto disse aos outros dois: "Vocês viram aquela estrela derramando leite?" Os dois olharam para cima: "Onde?" "Ah, sei lá. Estava bem ali, agora mesmo."

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