sábado, 1 de outubro de 2011

Árvore

Está numa idade em que lhe repugna exagerar no estilo. O arrebatamento vocabular, assim como tantas outras coisas, se dissipou com a juventude. A convenção diz que ele está na maturidade e deve proceder de acordo com ela. Ocorreu-lhe uma ideia que é uma espécie de resumo disso tudo: imaginando uma paisagem, um rio no qual uma jovem suicida se atirasse, ele não poderia ser a água engolindo dramaticamente o corpo. Poderia, no máximo, ser uma das margens, a menos expressiva das duas, ou nem isso: talvez apenas uma árvore não tocada pelo vento, assistindo calada ao ritual do corpo oferecido à morte, afundando e voltando, afundando e voltando, sob o olhar impassível do sol e dos pássaros emudecidos ainda pelo susto que o fragor do corpo, ao tocar na água, provocou.

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