quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O farsante

Não o vês, porque é noite. Mas ouves a respiração dele lá fora e sabes que ele te espreita, que ele espera que te livres da insônia e durmas um pouco. Então ele virá, anunciado pelos serviçais passarinhos, e abrirá sobre ti o olho sanguinário e te arrancará da cama, para o tormento de mais um dia. Ah, que fosse noite sempre, sempre, ah, que fosse, e jamais viesse acordá-lo esse maldito farsante que todas as manhãs chega e ilumina tudo, como se tivesse recriado todas as coisas enquanto te aconchegavas ternamente à treva.

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