sexta-feira, 2 de março de 2012

Os quatro Cs

Um professor meu no curso clássico (José Nêumanne Barroso Campinhos) dizia que um texto, para ser considerado bom, deveria preencher quatro requisitos, resumidos numa fórmula, a dos quatro Cs. Ele precisaria ser claro, correto, conciso e completo. Acredito que seja um bom conselho ainda hoje e aqui ele está como homenagem a esse mestre, que, assim como Cândido de Oliveira, me fez ver que o conhecimento da gramática e da língua portuguesa é quase uma obrigação cívica. Barroso Campinhos, a quem não assustavam os mistérios da crase e das conjugações anômalas, era de uma simplicidade única. Morava em um sítio e era comum aparecer no colégio com sacolas cheias de batatas, abobrinhas e frutas, para presentear os outros professores. Com frio ou calor, estava sempre com um casaco de couro e parecia tudo, menos professor de português. Ele tinha uma tese revolucionária. Era favorável ao imperativo da primeira pessoa. "E viva eu cá na terra sempre triste", famoso verso de Camões, era, para ele, um exemplo desse caso. Quando me lembro dele, assim como de outros mestres do antigo Colégio Alfredo Pucca, agradeço-lhes em pensamento o que me ensinaram e arrependo-me de não ter aproveitado ainda mais os conhecimentos de todos. Uma perda que sempre lastimarei será não ter me aprofundado no estudo da metrificação latina, que o professor Nunes dominava. Ah, seria bom poder olhar para um verso e reconhecê-lo como iâmbico, dáctilo ou espondeu.

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