sábado, 26 de maio de 2012

A mesa

Em torno dela sentaram-se
três gerações de endinheirados
com sua empáfia perfeita
feita de fraques e cavanhaques
com suas mulheres atraentes
fulgentes como berloques
e seus filhos de cachos dourados

Três gerações de criadas
em noites das quais
nem a mesa se lembra mais
fizeram brilhar sobre ela
travessas abarrotadas
de iguarias selecionadas
e copos de raros vinhos
para os festivos comensais

O tempo democraticamente
matou em partes iguais
os endinheirados e suas mulheres
seus filhos amados e as serviçais
e o palacete antigamente morada
de tão importante gente
abriga melancolicamente
passadores de craque
mendigos de pernas ulceradas
crianças de barrigas verminadas
e putinhas de dez reais

Faz muito frio hoje
e a mesa num canto
do extenso quintal largada
pelos cupins carcomida
pelas chuvas e pelo sol devorada
teve as suas pernas arrancadas

À noite os que lá dentro
não têm um lugar
colocarão fogo na mesa
naquela mesma mesa em redor da qual
outrora os nobres endinheirados
com seus ilustres convidados
com suas mulheres
e com os filhos adorados
se sentavam para jantar.

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