domingo, 17 de junho de 2012

Dinossauros

Quando um dinossauro, como eu, introduz num texto a palavra "hoje", é para confrontá-la com a palavra "antigamente", que abrange uma época da qual nem eles se lembram bem, mas que descrevem sempre como muito superior a esta, uma época de bondes preguiçosos e serenatas. Tudo era melhor então, ah, como era, dizem eles, digo eu, e para dar peso ao nosso argumento apresentamos nosso histórico e nossa identificação de fósseis: uma foto de nossa caderneta escolar (ah, como eram diferentes os colégios). Mas quem verá no nosso rosto de meninos algum traço daquilo em que nos transformaríamos, nestes olhos encovados, nestes sorrisos murchos, nestas rugas tristes como a desesperança que só admitimos quando estamos sozinhos? Estamos assim, já com o desenho da morte e o seu carimbo, prontos para a terra ou para o fogo. No entanto, dizemos com orgulho, como se pudéssemos ter algum, que não nos trocaríamos por dois rapazes de trinta e cinco anos.

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