sábado, 28 de julho de 2012

Artista

Meus monólogos são agora
para quatro ou cinco mendigos
que ganham o ingresso
em uma associação
e vêm não para ver-me
mas para sentar-se
e comer em paz seu pão

Não posso queixar-me

Mastigam em silêncio
fingem prestar atenção no que digo
e se um ou dois
dos quatro ou cinco dormem
a culpa não é de sua má educação
mas do conforto das poltronas
e da calefação

Às vezes até me aplaudem
e hoje quando terminou
minha apresentação
um deles veio até o palco
e me ofertou
metade de um pão

Era um pão seco e velho
dava para ver
porém minha fome
o aceitaria com prazer
se um artista
um artista de verdade
pudesse abrir mão
de seu último grão
de dignidade.

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