terça-feira, 24 de julho de 2012

Um real

Ela ainda relutou. Soprou o pó, passou um paninho. Quem sabe? Reposto na estante, porém, o Amor estava tão inexpressivo quanto um minuto antes. Ela o pegou de novo, voltou a procurar nele algum sinal do antigo encanto. Ainda pensou em colocá-lo atrás dos outros bibelôs, a salvo dos olhares depreciativos dos visitantes, mas esse impulso de sentimentalismo durou um segundo. Ela jogou então o Amor na caixa, junto com as outras quinquilharias que havia recolhido pela casa. Ao levar a caixa para o balde de lixo, sentiu como ela estava pesada. Como podia ter guardado por tanto tempo aquilo tudo? Precisava se corrigir. Tinha uma afeição exagerada a objetos, quase sempre ligada a quem os dera. Quem lhe dera, mesmo, aquele Amor que parecia saído de uma loja de um real?

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