quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Bom dia

Dizer-te bom dia porque, embora tivesse sido tentado a te dizer boa madrugada, não disse. Seria doce desejar-te boa madrugada enquanto talvez estivesses sonhando que passeavas por um lugar daqueles que só nos sonhos existem, um lugar daqueles em que só costumam ser aceitas as crianças bem-comportadas e as mulheres sonhadoras. Dizer-te bom dia como se fosse a primeira vez. Dizer-te bom dia como se tivesse te conhecido hoje e não soubesse o que virias a representar para mim. Dizer-te bom dia sem ansiedade, sem a vontade de parecer para ti mais do que sou, sem a necessidade de buscar e rebuscar palavras. Dizer-te bom dia como se eu não soubesse ainda coisa nenhuma da vida ou só soubesse as coisas belas. Dizer-te bom dia com o meu melhor coração, o coração de ontem, aquele que - de tanto mudar pensando em fazer-me melhor para ti - tornei odioso. Dizer-te bom dia como se tivesse pedido para ser teu amigo e tu me tivesses aceitado. Dizer-te bom dia e ir me afastando, para que não visses minhas lágrimas e meu sorriso. Dizer-te bom dia para que não desconfiasses, pelas lágrimas e pelo sorriso, que aconteceu comigo uma daquelas pequenas epifanias de que falava Caio Fernando Abreu e que são as mais belas, as mais puras e as únicas epifanias. Dizer-te bom dia e não contar-te (porque descobririas sozinha) que dizer-te bom dia é o que ainda me leva a levantar-me de manhã como se fosse alguém que tem algo a fazer no mundo. Bom dia.

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