quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Bom dia

Numa dessas ruas perto da tua, há um ano ou há uma década, um poeta tristonho, vendo numa das janelas superiores uma mulher de cabelos derramados em cachoeira, disse-lhe, com o coração subitamente afogueado pela paixão, um bom-dia tão fraco e tão tímido que as duas palavras, sem força para subir até onde a mulher estava, ficaram no galho de uma árvore próxima de tua casa. O poeta passou mais algumas vezes por ali, mas, jamais tendo a felicidade de ver a mulher, mudou seu rumo. As duas palavras ficaram no galho, como se flores fossem, até que hoje um bem-te-vi as recolheu e as leva agora à janela onde talvez estejas. Acolhe-as, que estão orvalhadas por muitos serenos, e leva-as ao peito, para aquecê-las.

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