quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Kama Sutra - XIV

De vez em quando, lembra-se de um trecho de Maupassant que, lido na adolescência, acendeu um fogo que, tanto tempo depois, aviva nele ainda algumas chamas. Hoje, apanhou o livro, "Uma vida", e releu:

"Estavam com sede, e um rastro úmido guiou-os, através de um caos de pedras, até uma fonte pequenina canalizada num bambu para uso dos cabreiros. Um tapete de musgo cobria o solo em derredor. Joana ajoelhou-se para beber; Júlio fez outro tanto, e enquanto ela saboreava a frescura da água ele tomou-a pela cintura e tratou de arrebatar-lhe o lugar ao pé do cano de madeira. Ela resistiu; tocavam-se os lábios, encontravam-se, repeliam-se. Nos azares da luta, apoderavam-se alternativamente da delgada extremidade do tubo e mordiam-na para não soltá-la. E o filete de água fria, conquistado e abandonado sem cessar, rompia-se e reatava-se, salpicando os rostos, os pescoços, as roupas e as mãos. Gotinhas que pareciam pérolas luziam-lhes nos cabelos. E os beijos rolavam na corrente. Súbito, Joana teve uma inspiração de amor. Encheu a boca do claro líquido, e, com as bochechas dilatadas como odres, deu a entender a Júlio que desejava desalterá-lo de lábio a lábio. Ele aproximou, sorrindo, a cabeça inclinada, de braços abertos, e bebeu de um trago nessa fonte de carne viva que lhe verteu nas entranhas um desejo chamejante."

Terminada a leitura, ele estava tão atordoado pela sensualidade exasperada que, como na primeira vez, era ao mesmo tempo Joana, Júlio e a água tão avidamente bebida.

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