sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Kama Sutra - XXXVIII

Era já a quarta vez que ela e ele caminhavam pelo parque e naquela tarde, assim como nas três anteriores, parecia que não dariam um passo sequer no rumo que desejavam. Eram irremediavelmente tímidos e falhavam de novo as sugestões sussurradas pela brisa, o toque insinuante dos dedos do sol no corpo dele e no corpo dela, e de nada adiantava a algazarra dos casais de pássaros em suas perseguições amorosas. Sentaram-se no banco, o mesmo em que haviam se sentado nas outras três vezes, e ficaram olhando para as árvores, talvez para ver se não lhes faltava nenhuma folha. Foi então que apareceu a abelha e picou o dedo dela, levando-a a gritar e umedecendo-lhe os olhos. Ele, aflito, a viu cravar os dentes no dedo. "Precisa tirar o veneno", ela explicou e, talvez por essa frase dúbia, que ele interpretou como se fosse dirigida a uma terceira pessoa, talvez pela coragem finalmente despertada pelo desejo, ele apanhou o dedo dela, trouxe-o para a boca e, sem usar os dentes, só os lábios, começou a extrair o veneno. Ele era doce, por vir com um pouco da saliva dela, que um instante depois ele se atreveu a buscar não mais no dedo, mas nos lábios que acolheram os dele com língua e dentes.

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