quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Os trinta e quatro

Toda noite, sem falhar uma, assim que dormia ele era perseguido por uma mulher de cabelos de fogo que, com um punhal na mão, o encurralava em uma rua com piso de macadame, o beijava trinta e quatro vezes e depois o esfaqueava. Tentando decifrar o significado dessa aventura noturna, ele contou a várias pessoas tudo, minuciosamente. Isso foi há muito tempo. Desistiu da narrativa porque todos, sempre, chamavam aquilo de pesadelo. Como podia ser pesadelo aquilo que o fazia, e ainda o faz, dormir cada noite mais cedo, na esperança de que a mulher de cabelos rubros o beijasse trinta e quetro vezes, e talvez mais uma ou duas, antes de enterrar-lhe o punhal e afastar-se nua, fazendo soar seus saltos de ponta no macadame?

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