sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Jornal da Tarde

O Jornal da Tarde, quando surgiu, foi um sopro de inovação, em tudo: a diagramação, a parte visual, a "cara" das páginas. Mas me encantava principalmente a linguagem. Estava-se na época do "new journalism", com a influência de técnicas literárias para dar sangue e vida ao texto, e foi no JT que eu tomei conhecimento dessa tendência que nos Estados Unidos, pelas mãos de gente como Gay Talese e Truman Capote, vinha dando novas cores especialmente à reportagem. Essa identificação com o novo jornalismo teve seu auge num domingo em que escritores famosos foram convidados a ser redatores da edição de segunda. A experiência se transformou em livro, assim como uma edição das primeiras páginas do jornal. Tanta coisa a ser lembrada... Tanta qualidade, tanto brilho, como o dos textos policiais assinados por Valdir Sanches. Suas manchetes pareciam flashes de filmes: "Dez da noite no bar. O homem vai entrar atirando." Ou: "Vestida de freira, a mulher anuncia o assalto". Notícias corriqueiras assumiam uma dramaticidade única. Recordo-me também da contraposição de notícias. Numa de tantas inesquecíveis edições, apareciam lado a lado a história de um goleiro que se destacou num jogo e a de um jovem goleiro, um menino que morreu sem concretizar a aspiração de se tornar um profissional do futebol. Os títulos eram "A noite do grande goleiro" e "A morte do pequeno goleiro". E os cronistas do JT? Lourenço Diaféria e Frederico Branco, dois dos três maiores que São Paulo teve em toda sua existência (o outro é Alcântara Machado), assinaram colunas no jornal. Cada edição do JT era uma lição de jornalismo dada com um bom gosto exemplar. É, ainda. A história é um contínuo presente.

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