sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Um soneto de Mário de Andrade

"Tanta lágrima hei já, Senhora minha,
Derramado dos olhos sofredores,
Que se foram com elas meus ardores
E a ânsia de amar que de teus dons me vinha.

Todo o pranto chorei. Tudo o que tinha
Caiu-me ao peito cheio de esplendores,
E em vez de aí formar terras melhores,
Tornou minha alma sáfara e maninha.

E foi tal o chorar por mim vertido,
E tais as dores, tantas as tristezas,
Que me arrancou do peito vossa graça,

Que de muito perder, tudo hei perdido;
Não vejo mais surpresa nas surpresas
E nem sofrer sei mais, por mor desgraça."

(Do livro Poesia de Mário de Andrade, coleção Nossos Clássicos, da Livraria Agir Editora.)

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