quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O feitiço do Amor

Para fugir ao Amor e aos seus amavios, amarrei-me ao mastro. Esperava passar incólume e seguir adiante. Mas o vento e as ondas me traíram, meu barco ficou ancorado no meio do oceano, à noite, e as canções do Amor me enfeitiçaram de tal forma que eu, sozinho na escuridão, não podendo ir a ele, lhe implorei que viesse buscar-me e me castigasse pela afronta. Ele veio, me açoitou e foi tão terno seu chicote que desmaiei de gozo. De manhã, o sol me encontrou livre das amarras, que o Amor por piedade havia rompido, e meu barco, impelido pelas ondas recém-despertas, se afastou daquele ponto em que pela única vez na vida senti o que era o prazer. Ainda hoje, se apalpo qualquer uma das cicatrizes, fico à beira de um doce desmaio, como naquela noite.

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