terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Três poemas de Eugenio Montale

AS RIMAS

"As rimas são mais chatas do que
as damas de São Vicente: batem à porta
e insistem. Enxotá-las é impossível
mas desde que fiquem do lado de fora são suportáveis.
O poeta decente as afasta
(as rimas), as esconde, trapaceia, tenta
passá-las de contrabando. Mas as beatas ardem
de zelo e cedo ou tarde (rimas e velhotas)
soam novamente e são sempre as mesmas."

                              *


LA BELLE DAME SANS MERCI

"Sem dúvida as gaivotas cantonais esperaram em vão
as migalhas  de pão que eu lhes lançava
em teu balcão para que ouvisses
mesmo ferrada no sono os seus estrídulos.

Hoje faltamos os dois ao encontro
e o nosso café da manhã esfria entre as pilhas
para mim de livros inúteis e para ti de relíquias
que ignoro: agendas, estojos, vidros e cremes.

Maravilhoso o teu rosto se obstina ainda, recortado
sobre o pano de fundo de cal da manhã;
mas uma vida sem asas não o alcança e o seu fogo
sufocado é o lampejo de um isqueiro."

                               *


NA FUMAÇA

"Quantas vezes te esperei na estação
no frio, na neblina. Andava de um lado para outro
com minha tossezinha, comprando jornais inomináveis,
fumando Giuba depois suprimido pelo ministro
dos tabacos, o idiota!
Quem sabe um trem errado, ou desdobrado ou talvez
suprimido. Examinava os carrinhos
dos carregadores para ver se por acaso não levavam dentro
tua bagagem, e tu seguindo, atrasada.
Por fim aparecias, a última. É apenas uma lembrança
entre tantas outras. No sonho me persegue."

(Do livro Poesias, tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti, publicado pela Editora Record.)

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