domingo, 2 de dezembro de 2012

Um soneto de Camões

Alguns poemas nos comovem tão fundamente que se marcam na memória e nos acompanham pela vida. É o caso deste, a salvo de qualquer Alzheimer, Parkinson ou ingratidão literária. Dispensar-me de ir à estante para localizá-lo e transcrevê-lo não é uma jactância, tão comum nos velhotes que se gabam de ser letrados. É uma homenagem, como se Camões dela precisasse...

"Alma minha gentil que te partiste,
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo onde subiste
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma coisa a dor que me ficou
Da mágoa sem remédio de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te
Quão cedo dos meus olhos te levou."

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