domingo, 20 de janeiro de 2013

Kama Sutra - XCVII

Ontem, meu amigo Richard e eu fomos a um jantar na casa de uma formosa duquesa viúva, de trinta e seis anos, e sua filha de dezoito, ainda mais formosa. Quem nos fizera chegar o convite havia sido explícito quanto ao que lá deveríamos fazer. Tratava-se de entreter as duas nobres mulheres com nossas trovas, cuja fama chegara a esta parte do país, e servi-las também sexualmente, tarefa para a qual, Deus seja louvado, somos também singularmente dotados. Às oito em ponto, conforme combinado, chegamos à mansão, que dava a impressão de ser um antigo palácio reformado. Um lacaio abriu-nos a porta e e nos introduziu em uma sala muito ampla e luxuosa, decorada com objetos de raro valor, cujo requinte me absterei de descrever. Sentadas à mesa, à luz de velas, estavam a duquesa, de rosto belíssimo e farta carne, e a filha, uma cópia exata da mãe. Richard e eu ficamos encantados com elas, imaginando qual das duas iria no fim da noite caber a cada um de nós ou se, por um dos jogos sexuais que andam em moda, nos daríamos os quatro simultaneamente em uma dessas amplas camas destinadas ao prazer. Desagradou-nos um pouco ver, sentados também, dois jovens com típicos rostos de aldeões. A duquesa explicou-nos que se tratava de dois trovadores da região que, sabendo de nossa presença, haviam pedido permissão para nos conhecer. O jantar foi servido com uma riqueza de iguarias que também me absterei de citar. Depois de havermos bebido muitas taças de vinho, a duquesa nos convidou a declamar os versos que ela e a filha disseram estar esperando ansiosamente. Richard e eu nos superamos. Jamais fomos tão bem favorecidos pelas musas. A duquesa e a filha nos olhavam como se fôssemos a encarnação da poesia. A duquesa perguntou, a Richard e a mim, se concederíamos aos dois bardos da região a oportunidade de mostar sua arte. Consentimos, e eles deram uma demonstração da pobreza de seu preparo. Bebemos alegremente até a meia-noite, quando a duquesa saiu da sala e chamou a filha. Ficaram ausentes uns dois minutos e, ao voltarem, a duquesa comunicou, a Richard e a mim, que já podíamos ir embora, pois era hora de elas dormirem. Agradeceu-nos e nos perguntou - o que muito nos ofendeu - se desejávamos levar alguma iguaria da qual tivéssemos gostado. Saímos tentando esconder nossa decepção. Tínhamos dado não mais que cem passos pelo jardim da mansão, quando começamos a ouvir os gritos de júbilo amoroso das duas mulheres. Andamos a noite inteira, sem destino, e chegamos esta manhã a uma estalagem onde o proprietário, ouvindo nossa história, se permitiu rir e dizer-nos que aquilo por que havíamos passado era comum: os dois jovens - aldeões, como supuséramos - eram já fazia algum tempo amantes das duas, que sentiam redobrado prazer quando simulavam ocasiões como a da véspera. Convidavam jovens forasteiros e incitavam-nos a disputá-las, para depois, logrando-os, melhor aproveitarem os atributos dos dois aldeões, pobres de versos mas agraciados com instrumentos sexuais capazes de quebrar cabaças de barro.

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