sexta-feira, 22 de março de 2013

São Paulo

Pelo menos não sequestraram
Pelo menos não estupraram
Pelo menos não mataram
Pelo menos deixaram os dois braços
Pelo menos não furaram os olhos
Pelo menos o menino não estava com ela
Imaginou só?

Além dos quatro ou cinco furtos sem violência, na base do upa, lá se foi a bolsa, foi a terceira vez que apontaram revólveres na cara da sua filha, que levaram o carro, os documentos, o celular, o dinheiro. Dizem a você que ela tem sorte e você, sem cinismo, reconhece. É verdade. Ela tem sorte. Muita. Os bandidos agora, quando assaltam, usam uma frase que não deixa nenhuma dúvida: "Você perdeu." É um ritual, um respeito às normas. Os nossos garotos, a nossa nova geração, são os ganhadores agora e fazem questão de nos avisar. É uma espécie de jogo: quem perdeu, perdeu. Alguns, por enquanto, têm ainda alguma consideração: não sequestram, não estupram, não matam, não arrancam braços, não furam os olhos, respeitam os meninos, principalmente se eles não estão lá. Não deixa de ser uma concessão. Mas é preciso ter sorte. Ser um eleito. Confiar em Deus talvez ajude, também. Aos poetas cabe a sensibilidade de cantar esses novos heróis que, com doze ou treze anos, já sabem ganhar seu pão desonestamente, como tantos outros.

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