quarta-feira, 24 de abril de 2013

Em algum lugar...

... desta cidade o amor talvez esteja, num café do centro, na floricultura do Arouche ou numa livraria da Vila Madalena. Adianta procurá-lo? Melhor ficarmos aqui, batendo estas teclas e pensando nele, não como deve estar agora, mas como foi. Foi belo. Tão belo que por um breve, brevíssimo tempo, imaginamos que ele pudesse ser cantado por nós. Não pôde. Não pudemos. Era muito para nós. Tivemos dele uma visão rápida. Ele não nos deu tempo de vê-lo inteiro, tão grande, tão imensamente belo ele era. Não podemos nem dizer que ele parecia uma ave branca, muito branca. Não podemos dizer que ele era um som fino como o da pavana de Ravel. Nossos olhos não eram dignos de contemplá-lo em sua inteireza, nossos ouvidos não mereceram ouvi-lo como gostaríamos. Foi melhor assim. O que diríamos dele que fosse capaz, mesmo, de representá-lo? Dissemos alguma coisa, muitas coisas, o máximo que nossos despreparados sentimentos conseguiram. Fomos um rabisco de pichador, quando desejávamos ser um traço de mestre, fomos um tambor de bateria de colégio castigando uma marcha militar, quando deveríamos ser um acorde de violino. Podemos dizer que o conhecemos, e que conhecê-lo foi o maravilhado espanto de nossa vida. Mas às vezes duvidamos. Podemos tê-lo mesmo visto? Epifanias não são para homens comuns. Terá sido um sonho nosso, nada mais. Mas podemos nós ter sonhado aquilo? O amor que pensamos ter visto apareceu por acaso para nós e nos condenou a reverenciar até nosso último dia um deus cujas graças jamais receberemos.

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