sábado, 27 de abril de 2013

O amor

O amor - esse de juras, arrufos, bravatas de suicídio e reconciliações - é o melhor modo de duas pessoas se destruírem, ao menos para o mundo. Apesar de tudo que lhe atribuem, do afeto cantado e decantado, das estrofes maravilhosas, o amor, tenhamos a coragem de reconhecer, é mesquinho e destrutivo. Duas pessoas unidas por essa obsessão não têm olhos para mais nada e para mais ninguém. Tsunamis, danceterias incendiadas, refugiados matando-se por um pãozinho, tudo passa diante de nós como se fosse um filme em que morressem só robôs. Quantos desgraçados morreram nos últimos anos sem que eu sequer olhasse para seus rostos cheios de pavor no jornal ou na tevê. O amor - esse que exige posse, exclusividade e vigilância contínua, esse que dói sem cessar no peito e na alma - é um vício, uma droga, uma danação. Mas é esse o único que vale. Se duvidam, perguntem à nossa carne flagelada, e ela mostrará cada marca como uma bem-aventurada conquista.

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