segunda-feira, 22 de abril de 2013

O sol lhe aquece...

... o corpo. Para quê? Ele não precisa do sol para andar por essas ruas em que olham com pena para ele. Seu infortúnio deve estar bem visível no rosto, como uma cicatriz. Ah, se pudesse estar em outro lugar, em outra cidade, que não lhe lembrasse tantas coisas que ele armazenou e que agora o incomodam como se fossem um furúnculo na alma. Forte essa imagem, esse furúnculo na alma, mas despida de qualquer sentido de arte. Aos diabos a arte! Também essa não lhe interessa mais, ela que não foi capaz de exprimir o seu mais agudo sentimento. Seria bom se ele estivesse em uma cidade na qual não pudesse tomar o metrô ali adiante e ir ver pela milésima vez o local em que sorriu certa manhã. Seria bom, tão bom, se alguém gritasse de repente que o velhote caiu e quando viessem apalpá-lo ele já estivesse fora do alcance de qualquer amor e de qualquer caridade. Seria bom, muito bom. Ele precisaria menos ainda deste sol.

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