sábado, 29 de junho de 2013

A tristeza,

assim como outros grandes sentimentos humanos, jamais se deixa expressar por inteiro. Ela é como uma ilha permanentemente cercada pelo nevoeiro. As palavras a contornam, tentam penetrar no seu âmago, mas nunca avançam até o centro, ali onde a suprema dor flagela os homens. Alguns conseguiram dar uma espiada por entre a névoa, mas o que viram e os inquietou tampouco se deixou apreender pelas palavras. Muitos enlouqueceram na tentativa de exprimir essa beleza, bem mais consistente e digna do que a alegria. Penso em Robert Walser especialmente, reconhecendo a derrota e declarando-se, a partir dali, simplesmente um louco, não mais um escritor. Outros ensandeceram por se dedicar ao mesmo projeto. Retratar a tristeza é como pegar um punhado de areia no deserto. E, mesmo que tivessem obtido êxito nessa tarefa sem propósito, de que lhes adiantaria isso? Eles partiam da pressuposição de que aos homens interessaria saber o que se passa com os semelhantes, ainda que fosse o pior. Esse é o engano em que tantos incorreram. E, no entanto, quantos artistas continuam berrando seu alucinado amarelo van-goguiano para o mundo.

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