sábado, 20 de julho de 2013

Não pode, não...

... deve abrir a janela e olhar para o azul. Sabe que a palavra azul é uma fraude tão grande quanto as palavras amor e esperança. A cor que lhe convém é o cinza. O cinza sempre tem algo a oferecer à sua melancolia. Só esta lhe importa, já há algum tempo. Deve arranjar-lhe alimento com regularidade, o que não é difícil. Previdente, acumulou na memória decepções de todo tipo, às quais sempre pode recorrer. Não há de olhar para o azul, não há de falar com ninguém. Seria injusto, depois de tanta dedicação à tristeza, ser aquinhoado no fim da vida com a alegria. Um riso, um simples sorriso seriam, para ele, marcas de traição ao seu ideal. Há de ser fiel até o fim ao seu desprojeto de vida.

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