quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Kama Sutra - CCLXIX - Márika Voroshenka (7)

Não sei quantos anos tem Márika Voroshenka. Entre vinte e cinco e trinta, talvez um pouquinho mais. A idade é também um dos pontos que, desde o começo, decidimos não discutir. Se um de nós tivesse motivo para se ocupar com isso, seria ela. Nos dias em que analiso tudo, penso se ela não me aceitou justamente porque a ninguém no parque ocorreria imaginar que eu possa ser senão seu pai ou avô. Nossas mãos e nossas bocas, sempre discretas e sorrateiras, procuram manter plausível essa suposição. O fato é que Márika tem surpresas vocabulares que não consigo fazer coincidir com a idade que imagino nela. No dia em que me chamou carinhosamente de patife, depois de eu lhe furtar um beijo com um artifício, senti isso com toda a intensidade. Nesses momentos ela parece mais velha. Não me lembro de tê-la ouvido dizer palavrões, o que também não condiz com a idade que lhe atribuo. Seria lógico que ela os dissesse. Uma vez, é certo, ela exclamou um "pô". Mesmo essa forma resumida e atenuada não soou espontaneamente nos seus lábios e senti que ela se arrependera de tê-la dito. Também nas carícias ela é comedida e, às vezes, para obtê-las, preciso recorrer ao conhecimento que tenho do seu ponto fraco, que, como disse, é a nuca. Esta, tocada como deve ser, revela uma Márika insuspeitada.

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