sexta-feira, 27 de setembro de 2013

No fim das contas

No fim das contas, é tão melhor ter sido tolo... Segui minha natureza. Nunca tive, embora bem as quisesse, mãos fortes, de quem conquista. Sempre fui, ainda sou, um homem que ficou só esboçado no menino. Eu te dei o que tinha. Uma noção equivocada da vida, um desenho impreciso e canhestro, uma ingenuidade feita de brisa e de nuvens. Algumas vezes quis te enganar, é verdade, fingindo sabedorias que não tinha. Sugeri palavras como desfrute e alcova, mas logo viste que eram palavras tão antigas quanto a minha ignorância das coisas. Te censurei por não me veres como eu queria que me visses. E, no entanto, isso foi o que de melhor poderia acontecer. Guardo tua imagem inicial, aquela que concebi juntando todos os fiapos de sonhos que sonhei na vida. Não creio que aquela outra imagem, que tentei impor a mim e a ti, chegasse a me comover como a primeira. Posso queixar-me da pureza que sinto hoje quando me recordo daquele dezembro único, da manhã única, do sol único? A pureza é um sentimento risível? Não creio.

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