domingo, 22 de setembro de 2013

Resumo

Foi assim, desde a primeira vez. Andávamos sob o sol e de repente, no meio de uma frase, de um sorriso, me matavas. Eu assumia meu papel e ficava mortinho. Então, para testares um de teus tantos poderes, me ressuscitavas. E eu cantava, e no meu canto de Lázaro agradecido te celebrava. Trazia do Reino dos Mortos meia dúzia de flores que só ali crescem, no Jardim das Almas. Tu as olhavas com desdém. Me aturavas mais um tantinho, me levavas para passear e esperavas o instante mais glorioso do sol para me matares de novo. Agora com mais prática, eu morria mais convincentemente, para te agradar. E outra vez, quando não tinhas outro brinquedo na internet, ias até a beirada do Reino dos Mortos e me chamavas. Dizias: "Você está sujinho, hem?" E eu louvava teu bom humor. Morri várias vezes, tantas que já a brincadeira deve estar perdendo a graça. Se um dia vieres resgatar-me novamente, que possas perdoar-me se eu não for um morto inteiramente do teu agrado.

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