sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Um cronista

Toda cidade, por menor que seja, há de ter um cronista. Alguém há de olhar com olhos especiais uma árvore, um gato, aquele indefectível cachorro que aparece na rodoviária meia hora antes da chegada de um ônibus de fora e fica observando os passageiros com curiosidade. Alguém há de falar do aniversário do município todo ano, mesmo que diga sempre a mesma coisa. Alguém precisa saber, como o historiador, em que ano circulou o primeiro guarda-chuva pelas ruas do centrinho, e, mais do que saber, deve falar dele como merece ser falado um guarda-chuva que é visto pela primeira vez em algum lugar. Se inventar que nesse longínquo dia se abriu, junto com o guarda-chuva, um arco-íris, ninguém há de censurá-lo. Se o município não tiver cronista, que ele seja importado em regime de plena urgência. Os cronistas, como os poetas, contentam-se em receber pouco e, se houver um estoque mínimo de estrelas e de rosas, sua alimentação estará garantida.

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