domingo, 27 de outubro de 2013

Um poema de Claudia Roquette-Pinto

"BLEFE

Pois este é o mês bastardo, azinhavre
engole o que há de doce nos metais
silêncio embaça a pele dos diários
lençóis têm cor de áridos lençóis

existe azul, mas é um azul de asma
que a nitidez da tarde faz em cápsula
espelhos só devolvem olheira e pragas
um gesto que de fácil despedaça

catódica essa luminosidade
estranha o sol repele o sol. intacto
o tique que quedou meus dias gagos

a rima fica lívida nos lábios
e dor sem voz passeia o seu contágio
um gato eletrifica. arrisco maio."

(Da coletânea Esses poetas - Uma antologia dos anos 90, organizada por Heloisa Buarque de Hollanda.)

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