sábado, 21 de dezembro de 2013

Quando...

... passarmos a dormir bem, a não nos inquietar, a sorrir como os outros, estaremos prontos para renegar o amor. O amor há de ser sempre aflição, instabilidade, insegurança. O amor não dorme em redes, não coça a barriga pachorrentamente. O amor está sempre naufragando sem barcos de salvamento, pulando de décimos andares sem rede. O amor estará sempre se lastimando, tentando expressar-se em poesia. O amor estará sempre morrendo. O amor não é um piquenique. O amor há de sempre aspirar à eternidade, embora sabendo que a perenidade é mortal para ele como as traças dentro de um livro. O amor é fluido, frágil, perecível. É dessa efemeridade que se faz sua essência. O amor nunca será encontrado em álbuns de família. Nunca será apontado como vovô Pedro ou vó Lucinda. O amor é sempre o abençoado transgressor que não aparece em foto nenhuma, a não ser naquelas escondidas bem no fundo das gavetas, guardadas num envelope no qual se lê "selos" ou "receitas".

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