quinta-feira, 27 de março de 2014

"1909", de Guillaume Apollinaire

"Tinha a dama um vestido
Em veludo violáceo
E a túnica em ouro bordada
Compunha-se de dois panos
Que se amarravam no ombro

De olhos dançantes como anjos
Ela sorria ela sorria
Tinha um semblante das cores de França
Olho azul dentes brancos e lábios bem rubros
Tinha um semblante das cores de França

Ela usava um decote redondo
E um penteado à Récamier
Com lindos braços nus

Nunca se vai ouvir meia-noite bater

A dama em veludo violáceo
De túnica bordada em ouro
Usando um decote redondo
Passeava as suas madeixas
O bandô de ouro
E arrastava os sapatos de fivelas

Ela estava tão bela
Que não ousarias amá-la

Eu amava as mulheres atrozes nos bairros enormes
Onde a cada dia nascem alguns seres novos
O ferro era seu sangue a chama era seu cérebro

Amava amava o povo das máquinas hábil
O luxo e a beleza são só a sua espuma
Essa mulher era tão bela
Que até me dava medo."

(Do livro Álcoois, tradução de Mario Laranjeira, publicado pela Hedra.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário