terça-feira, 18 de março de 2014

"Meu pequerrucho", de Morris Rosenfeld

"A noite me envolve.
Entro em casa, exausto,
e minha mulher me fala do petiz:
'Brincou o dia inteiro!
Riu! Perguntou: Mamãe,
será que papá me há de trazer um pêni?'

Dormias,
quando na madrugada branca saí para o trabalho.
Volto, estás dormindo.
Quando me verás, meu filho, quando?

Aqui estou.
Junto do teu berço, te observo e vejo,
Sonhas e sorris. Ouço dizeres:
'Que é de o papá? Onde está?'

Beijo-te os olhinhos cor de cinza...
Vejo se entreabrirem teus olhinhos claros.
Não me vês? Me vês, querido?
Mas ele fecha depressa as pálpebras pesadas.

Olha, trago-te um pêni... Toma...
Segura-o nas mãozinhas.
Sonhas... Sorris... Ouço dizeres:
'Que é de o papá? Onde está?'
Estou aqui, pequerrucho! Exausto, mas estou aqui!
Pobre criança, despertarás um dia!
Mas nesse dia
não estará mais aqui o teu papá!'

(Tradução de Carlos Ortiz, do livro Quatro mil anos de poesia, publicado pela Editora Perspectiva.)

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