quarta-feira, 26 de março de 2014

No jornal (Major Quedinho e Caetano Álvares) - 61 - Lembranças em torno de uma crônica de Rubem Braga

Quando morreu Oswaldo França Jr., autor de romances de sucesso como Jorge, um brasileiro, inspirador da série "Carga pesada", da Globo, Rubem Braga fez uma crônica em que seu estilo lírico enveredava por um tom jaboriano, de revolta. No fim do texto, ele resumia todo o seu desencanto com a falta de justiça na distribuição da morte com uma palavra que não poderia ser outra: merda! Flaubert, obcecado com a procura do termo exato, a aprovaria. Alguém a riscou, no original. A crônica perdeu noventa por cento de seu impacto. O corte é até compreensível, pala época em que o fato ocorreu. Havia uma caça a palavras inadequadas. Lembro-me de uma noite, alguns anos depois, em que, como copidesque, suprimi a palavra cazzo de uma nota da coluna de Miriam Leitão. Ela reproduzia um diálogo entre dois empresários, a palavra tinha sido dita por um deles e, vendo com olhos de hoje, a supressão me parece antipática, até desnecessária - um caso de excesso de zelo. Mas eram assim as coisas nesse tempo. E antes, na década de 1960, eram um pouco piores. Um carvalho, homem ou árvore, sem o "v", podia pôr na rua um revisor. A divisão silábica da palavra disputa, deixando puta num começo de linha, na primeira página, manteve as telefonistas do jornal ocupadas o dia inteiro com reclamações de leitores furibundos. Nesta série de textos que rememoram situações e personagens do Estadão, há um em que falo de uma edição da Folha esgotada por um descuido que fez o filme Com quem andam nossas filhas ser anunciado com o patético apelo de Fodam nossas filhas.

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